Devaneios, eis o que foram. Puros devaneios,
aqueles arquétipos da felicidade! A triste inamovibilidade dos seus modos e
sentidos transfigurou-o em carvalho, peça ornamental, dureza in
personae. "Justiça!" Gritam os sortilégios... Mas, por epopéicas
medidas fora a justiça vendada[1]. § Sortilégios, perguntam-se!
Sortilégios, é claro! Esses malditos artifícios. Foram chamados bruxaria quando
não passavam de opiniões. É verdade, não houve chance para a sua germinação.
Notou-se um fio de azeite escurecer: a querida laetitia[2], a tão sonhada
aurora de seus sonhos, queixosa de espaço, teve seu júbilo roubado. Para que
tamanha ledice? E "justiça!" clamavam os sortilégios! Sem eco, em
verdade. § Passeios em pipas e
alucinações era o cântico dos corais. A vida já não era a mesma, perdera o
fogo. O nobre enrijecimento, este não, continua e cresce e alegra-se e reflete
e diz: ‘como eu sou perfeito, tamanho hederáceo!’ Fustigação contínua do
caudaloso líquido; extrai o brilho proporcionado pela seiva; mas de que isso
importa, o resultado é belo, outrossim! Em pouco se perde a beleza, que fica,
mas alterada, e em muito a sutileza, que definha em movimentos nodais. § De uma sua percepção nascera o novo, o
antigo. Porvir, devir, potência. Não poderia ser diferente! Os grupos se
forçam, as forças se formam e esta, em seu eu solitário, forma o persistir
enraizado. Difícil é sair deste estado. Assim chegou Laércio à sua grande
encruzilhada: entre a superficialidade das relações ou a profundidade das
chagas. Oh! Como são profundas as chagas... \
[1] O texto,
originalmente, seria: Mas,
por Diké substituir-se-ia Iustitia*, assim,
declarou-se a morte aos ideais, pois fora a justiça vendada. *Diké e Iustitia:
representações mitológicas das deusas da justiça na Grécia (clássica tardia
e helenística) e Roma, respectivamente.
[2] Palavra latina para felicidade.
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