Era impraticável... Aquele amor não poderia durar cercado de mentiras e culpa e cheio de infantis descontentamentos. Ao deitar-se na cama e olhar o corpo nu e suas mãos juntas, sabia que tudo aquilo era ótimo, embora simplesmente errado. Fumavam, agora, um cigarro, sentados na cama e calmos - com o coração palpitantemente trepidante. Tudo fora muito rápido e inconteste. Tudo fora já demasiadamente contestado por suas cabeças encostadas. Um via-se no outro como em um espelho, mas eram tão diferentes - e já há algum tempo estavam tristes com o desfecho.
Ela já estava bem com tudo, pois seu marido aceitara o intruso que ele era... J. um intruso em sua própria cama... Descontente com sua precária fraqueza em recusar os seus corpos. Feliz, ainda assim, por já estarem há tanto tempo juntos... Ele a desejava sempre mais, mas seus olhos traíam a sua insegurança: denunciava e infligia horror. E mesmo o pássaro pousado na janela era capaz de perceber que entre aquele vapor sexual, entre a fumaça vertiginosa de seus cigarros fálicos, pairava uma nuvem de embaraço... Agora era ele quem estava na posição do "não" - mas M. nada dizia...
Eles estavam felizes por sua tristeza mútua; por suas vozes calmas e amáveis. Ele não sabia mais a razão de não querer estar com ela se tudo o que faziam era excelente... J. era um vagabundo caminhando pelo lago de sua dívida consigo mesmo. M. não entendia o que estava errado, apesar de sentir na fumaça de seu cigarro o cheiro costumeiro de um crime; o afável pressentimento de um desastre iminente. Um amor culpado! E no perfeito momento do "não" esperado por ambos para um desfecho celestial, um beijo calara o pássaro que, ao voar, deixara o preto de suas fezes no parapeito da janela. Aliás, no peito dos dois. No desgosto do desejo. Só mais um pouco... Só para sempre; existindo em um "eu te amo".
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