O som batia nos
ouvidos e agitava a sua concentração no nada do seu ser. Saía da caixa, pequena
maquineta vulgar, a voz monótona e irritantemente cadenciada no igualitarismo
sonífero da voz daquela mulher... Claro, ele guardava o seu respeito em relação
a ela; afinal, [ela] o superestimava por um equívoco do passado – deixando-o em
uma situação complicadamente fácil de resolver, não fosse a expectativa nele
recaída acerca de suas capacidades. Algo a se desconversar. Não desmentir; isto
jamais! Fazê-lo seria retornar ao seu anonimato indigente – e, obviamente, o
seu ego não o permitiria: essas coisas de ser parente do jovem Narciso. Mas as
suas faculdades do espírito não são de todo ruins ou mal utilizadas (sequer são
subutilizadas de um modo qualquer e aleatório); as eleva até ao máximo de seu
caráter sórdido, não sendo possível determiná-las por uma questão de
insuficiência intelectiva sobre os objetos de pouca importância, como é o caso
de sua própria capacidade (e, mesmo, de seu conjunto de capacidades). “Basta
sê-lo capaz, jovem!”, cantam em coro as vozes do mundo. Mas sê-lo capaz em
aparência, como um bom mascarado no baile do Príncipe Mephistos, onde a lâmia
mais horrenda apaixona o homem mais torpe com o pretexto de suas alegorias
argentas. E isto aquela mulher não compreendia: como um semi-deus hercúleo
pudera transformar-se (transtornar-se, quiçá) em um “simples” no breve momento
do cálculo da língua – a partir da análise gritante do prefixo ‘semi’, cuja
função é tanto dar caráter quanto tirá-lo (sendo que entre o deus e o comum
está o semi como o que nada é, ou tudo não é). O pior é que sua imagem, na
semelhança de duas gotas d’água, fora confundida por um olhar curto (este dos
espíritos míopes) com a nobreza in
personae, sendo que a diferença é de natureza entre a maquineta escura e o
vagão roto (ou entre a generalidade e a repetição a diferença é de natureza). E
esta, como já foi dito por um francês, é cravada na diferença constantemente
relembrada: distinção esta que lhe dá o mero semblante de um duque, quando não
passa de caixeiro e cru debutante de sua ignorância. Sim, com toda a certeza, fá-lo-á
assim na certeza de que aquilo sobre si de que lhe cobram um trato, seja dado
em ato, na forma singela de algo que não é; uma simulação.
Bruno, que bom que isso aqui tá ressuscitando adoro esses textos sonoros :)
ResponderExcluirPelo jeito a Alemanha tá te inspirando