Era um dia quente e nada havia que não a agonia;
esta e imagens destoantes. Assim pairava Laércio em seu conatus[1]. Perpetuando a
questão: se morrer, para que fazer? Mas ainda assim o fazia... Laércio
nunca fora de ter muitos amigos, mas também nunca estivera sozinho: sempre
acompanhado de seus reflexos, quase que numa relação de estreita afecção com
suas inseguranças. Mas, filho dos pais que tinha, nunca poderia deixar notável
– que decepção isto seria! De todos os males o menor: guardar para si os
seus medos. Rir de si nos momentos certos, enquanto abraçado ao vazio! Sozinho,
admita! Esse era seu passatempo: encontrar em coisas efêmeras a liberdade de
ser sozinho sem ser – e tentar enganar todos os outros com suas asneiras e
brincadeiras. Laércio era uma pessoa feliz! Feliz, ele queria ser. Mas
difícil é transfigurar-se em algo que não é: ele era feliz, de fato... para os
outros ele era! Isso é o que importa: a imagem! \
[1] Na filosofia de Spinoza, é uma
tendência inata das coisas para perpetuar-se. Daí o nome da personagem: Laércio
Conatus.
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