quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

(Uma) Paródia "pós-moderna" [sobre a essência do cômico]

MAGRITTE, René. La Trahison des images (Ceci n'est pas une pipe), 1929.

[Recomenda-se seja lido em conjunto com "Gesang der Junglinge" de Karlheinz Stockhausen]


[Um conto - (uma) paródia "pós-moderna"]

Não existe o feio ou o belo, apenas o tosco! Eu sou o tosco, tu és o tosco e ele também o é. Mas é claro que existem toscos mais bonitos e toscos mais feios... Afinal, quem disse que não existe o feio ou o belo?! Eu sou o belo, tu também. Mas se o tosco é belo, então o que é o feio? Não existe o feio, mas o feio sou eu. Eu sou o feio; o feio és tu. O tosco é o feio que é o belo que é o tosco que é o belo que é o feito etc. Ora, e não é verdade que não existe verdade alguma? Esta verdade é apenas consensual, mas não existe consenso algum. E não existe verdade alguma sequer, pois nada é, e esta é de todas a maior verdade. E o tosco-belo-feio (que todos e cada um de nós somos) nada mais é do que o próprio veredito da verdade da inverdade que se dá verdadeiramente na relação casual que sempre ocorre. Eu sou o tosco e o tosco sou eu, mas nem eu e nem mesmo o tosco são.


[Um axioma e meio - um sorriso que chora]

Nem sempre é fácil definir o que as coisas são, mas a essência do cômico surge quando, a partir de confusões conceituais, ambas são expostas em sucessão, como um sorriso em um rosto que chora.


[Uma aporia resoluta? - "Ceci n'est pas une pipe"]

"Foi suficiente ao desenho mais correto uma inscrição como "Isto não é um cachimbo", para que logo a figura esteja obrigada a sair de si própria, isolar-se de seu espaço e, finalmente, pôr-se a flutuar, longe ou perto de si mesma, não se sabe, semelhante ou diferente de si." (FOUCAULT, Michel. Isto não é um cachimbo. São Paulo: Paz e Terra, 2008. p. 48).