domingo, 31 de outubro de 2010

Le Sphinx - O Folhetim 03


Criado a imagem e semelhança de um batráquio, nada mais poderia ser. Mas que coisa absurda! E o absurdo era contido em seu âmago. § As suas bases, construídas em circuitos e fechadas a cadeado, nunca foram mostradas. Aliás, foram, mas não apreciadas. Porque ele sempre fora reprimido por si, ainda que acreditasse não o ser. Laércio, homem de palavra. Laércio, homem confiável. Laércio, o educado. Laércio, o querido. Mas nunca, nunca, Laércio! § Suprimido por suas experiências, devastado em seu pesar. Isolado por todos e principalmente por seus monstros. Era necessário esconder-se! De quê? Para quê? § Aquilo começou como uma brincadeira e alastrou-se à realidade. Atrás da poltrona, da perna do pai, da voz da mãe, do túmulo da avó. Criou seus medos, alimentou suas consternações, viveu em função de uma efígie a qual nunca sua. Fora o Édipo de seus sentimentos – e como que na sucessão de fatos do mito tebano, do duelo com Laios até tornar-se um apátrida –, teve a necessidade de destruir-se. § Dormiu embrulhado em maus-sonhos e bons-pesadelos: por muito o assombraram! Ser sozinho, sozinho consigo, consigo e junto a outrem. § Determinou o quanto era vivo ao querer morrer. Tratou de seus medos como a um amigo e viveu feliz enquanto os repudiava a distância de um sonhador. Amou seu maior inimigo, e o abominou, também. Seus fantasmas foram de fato – os fatos nunca ocorreram, as cadências foram dominadas e conquistadas, não por ele, mas sim, pelo outro que consigo, aquele tão venerado espectro. \

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Conatus - O Folhetim 02


Era um dia quente e nada havia que não a agonia; esta e imagens destoantes. Assim pairava Laércio em seu conatus[1]. Perpetuando a questão: se morrer, para que fazer? Mas ainda assim o fazia... Laércio nunca fora de ter muitos amigos, mas também nunca estivera sozinho: sempre acompanhado de seus reflexos, quase que numa relação de estreita afecção com suas inseguranças. Mas, filho dos pais que tinha, nunca poderia deixar notável – que decepção isto seria! De todos os males o menor: guardar para si os seus medos. Rir de si nos momentos certos, enquanto abraçado ao vazio! Sozinho, admita! Esse era seu passatempo: encontrar em coisas efêmeras a liberdade de ser sozinho sem ser – e tentar enganar todos os outros com suas asneiras e brincadeiras. Laércio era uma pessoa feliz! Feliz, ele queria ser. Mas difícil é transfigurar-se em algo que não é: ele era feliz, de fato... para os outros ele era! Isso é o que importa: a imagem! \


[1] Na filosofia de Spinoza, é uma tendência inata das coisas para perpetuar-se. Daí o nome da personagem: Laércio Conatus.

domingo, 24 de outubro de 2010

A Moldura do Direito


Já faz algum tempo - e semana passada, como que por mágica, voltou-me ao pensamento - eu ouvi de meu antigo professor de Introdução ao Estudo do Direito uma interessante metáfora. Assim, dizia ele, "o direito é como uma moldura de quadro, tudo nela é alterável, mas ela permanece".


Mas então, como disse acima, essa imagem voltou de súbito à minha cabeça quando estava eu a tagarelar sobre isso e aquilo com outrem. Mas como será que isso voltou assim para mim, depois de tanto tempo (mais de 3 anos)? Foi justamente por entender o contrário! Durante muito tempo de minha vida acadêmica eu cheguei a acreditar nessa mui bem formulada ficção, mas não é mais o tempo para tal...


Quero dizer, como dizer que o sistema é sempre o sistema? Mas e as mudanças? E as revoltas? E tudo o mais? Como continuar acreditando em uma tamanha invenção, esta que desfigura o caráter mutável da sociedade? Onde estariam as forças reformistas? O direito, entendendo-o como é AGORA, até pode ser como nesta metáfora, mas o direito é muito mais! e antes de tudo, a complexidade dessa alegoria não finda no direito, pois acreditá-la é dizer o mundo como uma moldura de fatos acertados.


Já se foi o tempo... já se foi o tempo... e hoje? hoje é tudo ou nada em plena aceitação: hoje é fluxo! Para mudarmos esse sistema não basta dizer eu vou fazer o correto, mas dizer eu vou descrê-lo! queima-lo-ei e lhe-mo alimentarei. Essa é a verdade: a verdade é desconstruível! e no fim, resta o rio, mas esse podendo mudar seu leito, não apenas suas águas!

Conversações ao João da Ega


Tenho lido um livrinho chamado "Os Maias", de autoria do mestre realista Eça de Queirós. Sei que como estudante de direito, a maior parte das pessoas quando mo vêm a folheá-lo e deliciar-me com tamanhas linhas de prazer, olham-me como se fora um alienígena, um diferente! Mal sabem eles o conceito de "diferença sem negação" de Deleuze, acreditam na massificação e na pueril atração dos semelhantes...

Sim! estou lendo um romance, uma LITERATURA! Mas será possível? estudantes de direito a "nata" da sociedade, os futuros advogados, juízes, mestres, promotores, parlamentares, etc. não sabem o que significa uma boa leitura! isto é um absurdo! ou seria eu o alienígena? é o que parece... (risos).

Dessa forma, tendo em vista que as futuras "ôtoridades" desse país, ofereço minha alteridade:


E como o Ega se curvava, vencido, cheio só de respeito - o outro, faiscando todo de finura e cinismo, atirou-lhe uma palmada ao ombro:
- Meu caro, a política hoje é coisa muito diferente! Nós fizemos como vocês, os literatos. Antigamente a literatura era a imaginação, a fantasia, o ideal... Hoje é a realidade, a experiência, o fato positivo, o documento. Pois cá a política em Portugal também se lançou na corrente realista. No tempo da Regeneração e dos Históricos, a política era o progresso, a viação, a liberdade, o palavrório... Nós mudamos tudo isso. Hoje é o fato positivo - o dinheiro, o dinheiro! o bago! a massa! a rica massinha da nossa alma, menino! o divino dinheiro!
E de repente emudeceu, sentindo na sala um silêncio - onde o seu grito <> parecera ficar vibrando, no ar quente do gás, com a prolongação de um toque de rebate acordando as cobiças, chamando ao longe e ao largo todos os hábeis para o saque da pátria inerte!...


Pois bem, a minha alteridade, esta minha tão íntima força de ser diferente só me traz uma coisa: negação ao eu. quando, hoje, eu penso nesse país, em suas multifacetas pela ganância, em suas poucas reservas de respeito, em sua sede espúria pelo reconhecimento, em meus banalizados colegas de curso buscando a fórmula mágica para a felicidade ($$), penso apenas em uma coisa, a qual desdobra-se em duas: (a) será que está tudo errado (b) ou tenho eu é que me adaptar?!


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Entre as máscaras e as agonias - O Folhetim 01



- Tire suas mãos de mim!  
- Mas será possível, não vê que eu não poderia? Sou teu melhor amigo, rapaz. Meu caminho é teu paralelo: sou tua angústia, teu prazer. (risos). Não quer dizer que também não seja eu teu óbice, e por ventura, teu algoz!
- Mas então, o que eu ganho desta relação? Alento? Não vejo onde tu queres chegar, qual a tua proposta, não sei o que tu queres...
- Meu amigo, não quero nada que não fosse inevitável. Para dizer a verdade, se refletires, não tenho vontade, sou teu acaso, e como não poderia deixar de ser, fruto dele, também. Pois não enxergas essa verdade que te me carrega? O belo um dia teria que esvanecer, porque, quando comigo, nada escapa, nem tua vida.
- já não me interesso por nada, sabias? Não me importa isso que falaste... Sei que nada é em absoluto.
- Mas de mim tu não foges, sou tua angústia, meu caro Laércio... Eu sou nada!
- Não abras a boca pra falar besteira! Não sinto nada, nunca me deixei transparecer, fui por toda essa vida um mentiroso! Meu mérito é ter escondido de mim e do mundo o que eu sentia... Só assim... Só assim eu fui feliz!
- Há! Isso não importa! Tudo que falas é sem sentido; Delas tu não vais fugir! ... Deverias era viver...
- Mas então...

Sem mais o seu corpo caiu inerte. Entre alívio e dor: um efeito de luz, jogos infantis. Será que ele acorda? Só dorme? Será que há necessidade de saber? Ocaso, isso é o que é; ou acaso? Nuvens salmonadas fecharam sua retirada! Morto enfim. Morto em si. Em si. Enfim em si. \

"Homo Homini Lupus"

Aqui, já não mais fazendo sala à estréia (ou reestréia), vou colocar um vídeo, cuja mensagem, muito embora fale por si só, me faça querer escrever um tantinho. Pois bem, não vou-me prolongar, contudo, seguindo a idéia do intróito que foi o outro texto, e acrescendo a este a idéia (creio contrária à) lançada por Rui Barbosa (v.g. Vídeo), digo: não sinto vergonha, sinto "Hobbes"! E como quem nada quer, deixo esta ótima mensagem, tão fidúcia aos interesses democráticos. Pena, não estamos nesse regozijo.

Chistes!

Sei que até pouco tempo este blog se chamava "Recife: propósitos de uma juventude sem objetivo", mas parece que esse tema falhou, por não ser suficientemente abrangente - também por me deixar constantemente atordoado com o excesso de nonsense que suscitava. Pois não se preocupem, tudo continuará como sempre, apenas mudou o nome, o tema e a pessoa que escreve, já que hoje vocês ganharam a oportunidade de ter um "eu" remodelado!

Mas não é só isso, digo que de agora em diante, tudo será um eterno trocadilho, um chiste (nos dizeres freudianos). Além do mais, minha avaliação será muito mais correta, pois quase demagoga e caduca! Não, perceba, não para mim, claro, talvez nem mesmo para você que leia, mas para uma generalidade ou gerencialidade sistêmica (se preferir, sistemática).

Pois é, de início me parabenizo por tamanha falta de objetividade, viva (uhay!)! e, já que o país condiz com esse mote, um grande Amon-Rá e têm-se o "sap" e o "mute"! Assim, sintam-se livres para a crítica a quaisquer espécies de esboços, cártulas, vídeos e escritículos!

De mais a mais, muito obrigado, tenha um bom pesar.