quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Eu... dão-me vanidade!



Dei-me, dão-me vanidade. Eu dão-me vanidade; eles dei-me vanidade. O expressionismo um dia notou, a flor da menina é a curiosidade do Golem; e Nosferatu viu que a luz é o bem de sua poeira. Eu dei-me vanidade... Eu, dão-me vanidade a mim. Felix disse à sua bolsa, amarela e preta, preta e amarela: "dê-me o que preciso!" "careço vanidade", pensou o gatinho preto... O bem da bolsa era tornar-se vazia. O pó dos móveis cobre tudo o mais, e deixa tudo o mais perplexo diante da limpeza que chega – avassaladora, rápida –, mas, logo a partícula retorna (e, se não for a mesma, outra). Por isso que um quarto branco compõe melhor com o mundo, principalmente um quarto sem móveis e, preferencialmente, sem luz (mas, sendo assim, já que não tem lume, não poderia ser de qualquer outra cor? Não, pois um dia poderá bater o sol...), para que possa restar a limpeza de uma aparência: vão no vão. Vanidade sem limites, neste quartinho... Sou eu o único móvel, o único a contemplar. A vida em contemplação: dei-me vanidade.

6 comentários:

  1. Um dos meus favoritos teus ! parabéns Bruno.
    Bem contemporânea a crítica.
    Melhor morar numa câmara obscura, refrigerada...

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  2. Valeu, Caio!

    Mas o que foi que você entendeu (e por que)?

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  3. Eu vi aí uma crítica à frivolidade, ao acumulo de ninharia, às "teorias organizacionais" domésticas.
    A neurose da necessidade de controle - limpe, tire, é prático, impraticável, hoje, agora.
    "Assim funciona, d'outra forma não" Isso não se faz, não é o modus operandi.
    Mas eu acho que isso pode ser interpretado em vários outros níveis também.

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  4. Eu tinha pensado em algo bem mais simples: vão é vão; e tudo é vão. Os exemplos são apenas formas de ver que melhor é que seja vão. É um texto bem triste, na verdade...

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  5. Triste para quem se entristece, ou talvez foi essa a "mens legis" mas me causou um efeito mais "Plutarquiano" na leitura.
    Os exemplos e as idéias são exatamente isso, exemplos. Não necessito saber qual é o verdadeiro sentido de cada termo para tirar uma conclusão própria, e nisso, ele funciona.

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  6. É só um sentido/sentimento de vanidade (vem de vão/vã). Não tem crítica... Não foi essa a idéia. Esse não é um texto racional, mas sentimental (e racional enquanto texto).

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