sábado, 19 de março de 2011

Por mais um...


Marcos acordou cedo. Acordou, coçou seus olhos, pensou no que tinha sonhado e bateu a cabeça no travesseiro. Mas que saco, não é? Ter que acordar assim tão repentinamente para poder tomar banho e seguir a rotina que vincula a pessoa ao tempo e não, justamente, o contrário.

Sim, quase esquecia, eu estava falando de Marcos, não era? Sim! Era isso... Prossigamos: Marcos acordou bem cedo, porque tinha que ir trabalhar. Para isso ele coçou seus olhos, com certa preguiça, e depois de ter batido sua cabeça no travesseiro ao menos uma ou duas vezes, levantou-se, olhou seus animais em volta, fazendo um círculo entre boca e cauda, mas percebeu que estava sonhando de novo.

Dessa vez ele acordou, viu que já tinha perdido mais dez minutos desde a hora em que o despertador tocou e voltou a pensar em seus sonhos. Dessa vez havia sonhado com Zaratustra. Já nem mais lembrava do primeiro sonho... Que coisa, não? como a memória falha; mesmo aos mais sãos. Pois bem, no caminho entre sua cama e o banheiro pensou em várias coisas, dentre elas "que coisa extraordinária é o ocaso, não é?. Como posso eu pensar que ainda sou vivo se não elevo tudo à potência do infinito?"

Mas chegou ao banheiro. Notara, então, que havia deixado a luz ligada durante toda a noite. Apagou-a, mas percebeu que ainda estava muito escuro para poder continuar desse jeito. Ligou-a novamente para fugir à sua zona de conforto e disse baixinho: "como a natureza me angustia... parece que estou sempre sendo seguido por ela... Quando será que poderei controlá-la?!"

Contou todas as vezes em que tomando banho esta manhã deixara cair seu sabonete. As vezes, percebera, deixava que caísse propositalmente, como deixa-se o sol cair pelas mãos de Aurora. Ao pensar em Hélio, Aurora e Apolo, lembrara-se da última vez em que estivera sentado a observar um pôr-do-sol... Quanto tempo não fazia. Isso assustava-o. Pensara e queria continuar pensando que ainda era vivo, mas seus pensamentos o conduziram ao seu ocaso, e este, como o pôr-se da luz em seu banheiro aguçou-o de sua angústia.


5 comentários:

  1. Bruno, curti a imagem
    e esse texto tá bem naquela tematica que eu gosto haha

    ResponderExcluir
  2. é, cara... tudo rotina... tudo rotina... isso angustia, sabe? pensar que se esquece do fio para se pensar logo na malha. Já da malha se quer logo o resultado... e no fim, o que é real? Só Zaratustra, já em sonho, mostra o que é real: e o eterno retorno é o melhor ante o normal.

    ResponderExcluir
  3. Mermão. O cara descreveu minha rotina sem me conhecer. E usou meu nome. COMOFAS//
    Tem a ver com aquele papo todo que o tempo num serve pra nada, Bruno? Aliás... Medir o tempo, e coisital...

    ResponderExcluir
  4. tem mais a ver com a questão de viver no limbo, viver da potência (elevar a um estado hiperconsciencioso) ou viver alheio e mecanizado (um exemplo desses três casos é "de que eu estava falando mesmo" no texto). O tempo entra aqui como personagem, na medida em que é ator influente ao ato ordenado da rotina.

    ResponderExcluir