domingo, 20 de novembro de 2011

(Chronos) Contrapunctus I - O Folhetim 08


Laércio parara à janela, olhara todo o esplendor de um pôr-do-sol – ou de um movimento contrário: pôr-se rotacional da terra em relação à aparente estaticidade do astro-luz – parara e olhara... E contemplara a si – ser sozinho – em tristeza esplêndida. Quase um segundo sol, forçando um pôr-se dentro de fora de si. Laércio em verso esplêndido? Só uma jocosidade! A sua Laetitia logo a frente em um simplificar das coisas – tão distante... Memórias dela – mas que palavra recorrente! § Na verdade memória de algo de reminiscente em sua alma, uma verdade construída para habitarem os seus dáimons: brincarem e pularem e grunhirem. E a isto ele chamara afetos; sentimentos. Mas algo destes afetos lhe escapava, como no homem potencialmente fraco de Spinoza[1]; algo lhe alcançava o intelecto e lhe fazia permanecer ocaso... Pôr-se do pôr-do-sol do dentro de dentro ao de fora. Mas não é fora para as relações, transações e conversações: são dois Laércios em regozijo: e nada dos benéficos sortilégios de outrora. Um danado, batráquio! § Quanto aos amigos, uma grande pergunta a se formar: “onde estão?”. E Barnabás sorri-lhe um lindo espelhar de dentes vociferantes: “não!” – e compadece-se de si – e não sai disto... De “se... e se” fica Laércio preso em uma encruzilhada, dar tempo ao tempo ou tomar-lhe o tempo que é só seu; ou ainda – e já resolvendo o caminho, do duplo ao múltiplo (talvez melhor que não se resolvesse nada!) –, deixar de habitar no tempo? Isto: ou alvo do tempo contra o relógio da pseudo produção – e seu ocaso; ou maquinação no tempo de seu vir a si com os outros em maquil-ação. § Nada, nada ainda se respondera, Laércio: uma coisa é deixar de visitar a casa de sua juventude, outra é deixar de habitar nas suas lembranças, pois, pensara, não pode haver aquele que esquece – pelo menos não propriamente. \



[1] Spinoza, Baruch. Ética.

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