quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Desembaraço - "J. & M." 02


M. não estava jogando limpo consigo própria. Ela agora estava no quarto, novamente com aquele pseudo-estranho. Já era a terceira vez que se viam. No fundo, ela já sabia que tudo aquilo tinha um inconveniente - e, justamente por isso, levantava a sua guarda como jamais fizera! Media sua presa com movimentos mansos, pesados por amargos tons de arrependimento. M. Sabia o que fazia.

Assim, M. pensara: "Há um pequeno problema no modo como eu "cumpro" este sentimento. Sim, mas é claro que eu apenas "cumpro" o sentimento; não posso deixá-lo realmente aparecer e imperar... Talvez seja mais um desses meus medos... Medo de saber com certeza o que se quer - o que eu quero. Bem, medo de revelar-me o que é e não pode não ser. Eu não sei, mais... J., J., J.! Desse jeito eu só faço com que seja impossível não pensar no caso - e, por isso, penso tanto que não chego a sair do campo da racionalidade. Embora eu tenha todos os meus medos comigo, controlo muito bem os meus sentimentos - sempre ponderando as dificuldades deles advindas."

E M. deitara-se na cama. Ao fazer isso, ainda não completamente absorta por toda a atmosfera crescente, continuou seus devaneios: "Não é como se eu estivesse na cama, deitada com um estranho. Eu já o conheço bem; mas sei que não posso sustentar esta situação - que de tão fácil, mais e mais difícil fica!" Ela o havia beijado na testa e olhava-o (fixamente) por um tempo: "como é fácil jogar com ele: homem tão debilitado por sua sensibilidade... Devo rir, talvez, pois estou deitado com uma mulher! Não... Não é bem isso... Fora justamente esta sua doçura que me fizera interessar-me por ele; e... apaixonar-me, também! Oh! Mas eu não podia pensar assim... Não posso dar o braço a torcer para tudo o que eu sinto! Eu sei bem o que eu faço! Isto eu não posso!"

Mas isto, M. já fizera. Olhava-o, agora, por mais tempo do que esperava fazê-lo - e com outra abertura para o que sentia. Tinha aquele pequeno sorriso de uma só ponta e seus olhos estavam caídos, mas sorridentes. Em um típico lampejo de confissão e culpa. Pensou, então: "Vou virar-me, na cama. Isto! Devo dormir!" E então, M. falou: "J., você quer água?" E olhava-o, agora, mais atentamente. Só queria mais uma vez ouvir a sua voz; tranquila, grave. Assim feito, mesmo antes de uma resposta, ela levantou-se (e, claro, sabia bem o que fazia). Estava nua e andava suavemente tensa. Pegou a garrafa, que ao bater no copo fez aquele característico barulho de vidro, e voltou quase dançando.

Agora era a hora de dizer algo como 'deves ir...'. Entregou-lhe a garrafa; no que ele a olhou e ela pensou: "Agora eu me condeno. Assumo minha culpa! Sei que estou feliz com este rosto, estou bem! Eu sempre soube o que fazia! Condeno-me ao prazer deste momento!"


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