sábado, 17 de novembro de 2012

Embaraço - "J. & M." 01


J. pensou: "Imagine, pois, que estou eu cá em um quarto; claro, não estou sozinho e espero quase inquietamente quieto por uma coisa que pode bem não dar certo. Estou plenamente convicto de que não foi a coisa mais inteligente a se fazer - muito embora tenha me parecido assim na hora... Não tenho certeza de que está tudo bem para ela, talvez ela esteja em saia curta, mas não posso, ainda afirmar o que acontecerá. Falaram de mim agora a pouco, estou confuso e não sei o que devo fazer... Não gostaria que nada de ruim lhe acontecesse, mas como é difícil que não... Situação completamente estranha: devo me comparar a um inseto e, sem medo de meu desejo, subir na parede e disfarçar-me de quadro ou mobília? Disse-lhe que a situação não era nada estranha, que era, muito pelo contrário, completamente normal; claro, menti! Novamente, não quero que nada de ruim aconteça; afinal, tenho certos sentimentos por ela... Não posso negar... Doce, doce, M. - linda menina. Fico, portanto, sentado, esperando inconscientemente que nada aconteça; ao menos nada de mal - não é isso, de fato, o que eu quero. Mas havia mais cedo pensado em fazê-la apaixonar-se por mim. Obviamente, devo dizer, eu é que sou aqui o fantoche, sei bem disso."

J. faz um movimento e escuta, então, palavras incertas, e preso em seu pensamento continua: "Acho que agora fudeu, caíram as moedas de meu bolso; ela disse que foi outra pessoa... Triste, triste acontecimento! Espero que eles ainda possam se falar! Mas é tão difícil esta comunicação à distância. Ela continua com ele, eu estou aqui e seu amor lá - onde ninguém pode ver, senão ela (ora em seus sonhos, ora em meu rosto). Apesar de tudo ainda estou aqui... E como é estranho - embora eu tenha lhe dito que não! Que não seria... Pois é, menti... Na verdade só não havia pensado o quão complicado poderia ser... Um quarto bonito, iluminado por luzes fracas e deveras calmo... Obviamente, não fosse a minha agonia pelo término daquele momento lento, estaria tudo ótimo. Pois pense que estou eu com minha melhor roupa, como o amante que não deveria ser... E se sinto tons flagrantes de desconfiança, é muito provável que venham apenas de minha imaginação - pesada, cansada, saturada de esperar um pouco de amor também para mim!"

Eles ainda falam ao telefone e J. continua a pensar: "Ao final tudo corre bem. Claro, isto ainda é um pensamento, não posso estar certo, convicto como sou de mim mesmo, sobre que coisas que de mim não dependem. Que na verdade não são mais do que espelhos de minha própria agonia, ou seja, que dependem unicamente de mim. E quando ela é perguntada 'ele está aí, não é?', eu só escuto tristeza... Claro, já disse, não quero isso para ela... Acho que acabei de desarrumar a primeira relação sincera que tive em toda a minha vida. E a culpa não pode ser minha! Eu estava certo! Não estava? Será que eu não poderia ter relutado um pouco mais? Será que não fui eu quem causou todo este embaraço? Por que eu não consigo me convencer de que sou apenas a vítima? Antes eu estava feliz; agora, embora ainda esteja, estou culpado. Ela está aos prantos, sentada..."

M. então levanta-se e me olha triste. A ligação acabara. Sentou a cabeça em meu colo e chorou... Não queria vê-la assim, mas sou responsável pelo incidente. Assumo minha culpa; retiro-me e condeno-me ao fim da felicidade. Condeno-me ao fim da felicidade!

Nenhum comentário:

Postar um comentário