quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Conatus - O Folhetim 02


Era um dia quente e nada havia que não a agonia; esta e imagens destoantes. Assim pairava Laércio em seu conatus[1]. Perpetuando a questão: se morrer, para que fazer? Mas ainda assim o fazia... Laércio nunca fora de ter muitos amigos, mas também nunca estivera sozinho: sempre acompanhado de seus reflexos, quase que numa relação de estreita afecção com suas inseguranças. Mas, filho dos pais que tinha, nunca poderia deixar notável – que decepção isto seria! De todos os males o menor: guardar para si os seus medos. Rir de si nos momentos certos, enquanto abraçado ao vazio! Sozinho, admita! Esse era seu passatempo: encontrar em coisas efêmeras a liberdade de ser sozinho sem ser – e tentar enganar todos os outros com suas asneiras e brincadeiras. Laércio era uma pessoa feliz! Feliz, ele queria ser. Mas difícil é transfigurar-se em algo que não é: ele era feliz, de fato... para os outros ele era! Isso é o que importa: a imagem! \


[1] Na filosofia de Spinoza, é uma tendência inata das coisas para perpetuar-se. Daí o nome da personagem: Laércio Conatus.

Nenhum comentário:

Postar um comentário