domingo, 24 de outubro de 2010

Conversações ao João da Ega


Tenho lido um livrinho chamado "Os Maias", de autoria do mestre realista Eça de Queirós. Sei que como estudante de direito, a maior parte das pessoas quando mo vêm a folheá-lo e deliciar-me com tamanhas linhas de prazer, olham-me como se fora um alienígena, um diferente! Mal sabem eles o conceito de "diferença sem negação" de Deleuze, acreditam na massificação e na pueril atração dos semelhantes...

Sim! estou lendo um romance, uma LITERATURA! Mas será possível? estudantes de direito a "nata" da sociedade, os futuros advogados, juízes, mestres, promotores, parlamentares, etc. não sabem o que significa uma boa leitura! isto é um absurdo! ou seria eu o alienígena? é o que parece... (risos).

Dessa forma, tendo em vista que as futuras "ôtoridades" desse país, ofereço minha alteridade:


E como o Ega se curvava, vencido, cheio só de respeito - o outro, faiscando todo de finura e cinismo, atirou-lhe uma palmada ao ombro:
- Meu caro, a política hoje é coisa muito diferente! Nós fizemos como vocês, os literatos. Antigamente a literatura era a imaginação, a fantasia, o ideal... Hoje é a realidade, a experiência, o fato positivo, o documento. Pois cá a política em Portugal também se lançou na corrente realista. No tempo da Regeneração e dos Históricos, a política era o progresso, a viação, a liberdade, o palavrório... Nós mudamos tudo isso. Hoje é o fato positivo - o dinheiro, o dinheiro! o bago! a massa! a rica massinha da nossa alma, menino! o divino dinheiro!
E de repente emudeceu, sentindo na sala um silêncio - onde o seu grito <> parecera ficar vibrando, no ar quente do gás, com a prolongação de um toque de rebate acordando as cobiças, chamando ao longe e ao largo todos os hábeis para o saque da pátria inerte!...


Pois bem, a minha alteridade, esta minha tão íntima força de ser diferente só me traz uma coisa: negação ao eu. quando, hoje, eu penso nesse país, em suas multifacetas pela ganância, em suas poucas reservas de respeito, em sua sede espúria pelo reconhecimento, em meus banalizados colegas de curso buscando a fórmula mágica para a felicidade ($$), penso apenas em uma coisa, a qual desdobra-se em duas: (a) será que está tudo errado (b) ou tenho eu é que me adaptar?!


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