domingo, 12 de junho de 2011

Usurpação: sobre o dia dos namorados


Um poder se apossou de mim. Cruzou minhas fronteiras para fora e para dentro. Belo, belo movimento. Eis sua história.

- Sr. A, gostaria de perguntar-lhe, seria possível tomar sua dama para uma dança?
- De fato, só não vá fazer com ela nesse tempo que lhe concedo, Sr. B, o que eu nunca fiz em longos dez anos.
- Se o Sr. me permite, o que poderia ser tal coisa?
- Oh... penso não poder falar diretamente, mas, como tenho percebido que nossa intimidade cresce e, com ela, nosso respeito mútuo, não creio que faça mal contar-lhe, muito embora possa ferir minha honra...
- Mas o que poderia ser tão grave?
- Ventura, Sr.; desventura e amor. Amor, na verdade. Somente. Ventura é o que não tive por nunca ter-lhe amado, embora ela seja linda.
- Deixo claro, e com isto já vou seguindo meu caminho, não sou capaz de fazer-lhe tal afronta... [virou a cabeça] Continuo com minha antiga pretensão, se o Sr. não se importa, claro...
- Que bom, Sr., quão imensamente bom isto é, e o Sr.!

O Sr. B saiu e tomou de súbito a mão macia da dama. Já a dançar, lança um olhar descrédulo ao Sr. A, um pouco reconfortante, talvez, mas com um significado muito mais profundo do que qualquer outro. Coloca as mãos ao redor da moça, com certa fineza, mas sem qualquer frieza. Lança-lhe um olhar [e neste momento estavam escondidos pelos corpos de mais tantos casais que dançavam naquela noite] e leva sua boca às proximidades de seu rosto, dizendo-lhe em sussurro: "Minha dama, dama só minha e nunca de outrem, percebo que sua beleza é mil, mas percebo que seu calor a supera; sei também que sua face embora bela é tocada com melancolia e malgrado. Não se aflija, porém, [calou-lhe palavras tortas com o dedo] a Sr.ª terá o que jamais lhe foi permitido..." Silêncio, enfim. Puis un Couple.

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