quinta-feira, 14 de julho de 2011

Rugido: calado e contido...


Dizer que existe um modelo do feminino e do masculino é cair na armadilha de uma construção. Homem só é como ocorre biologicamente; isto vale para a mulher. Dessa forma, antes de homem e mulher como seres psicológicos, masculino e feminino como características biológicas. Eu assumo isto, apesar de também assumir o risco de aceitar a convenção: o próprio do homem e da mulher (como seres psicologicamente diferenciados), pois há uma necessidade fática de aceitar/encarar a história, a construção histórica. Isso porque, embora diga poder existir homem(s) tão mais feminino(s) do que possa ser uma mulher e vice-versa, é necessário, ainda, afirmar que ambos resistem enquanto institutos tradicionais; tradicionalmente passados e repassados enquanto convencimento do discurso.

Pois bem, o homem, como formação convencional de um discurso e, assim, como móvel pré-moldado, só pode ser isto e aquilo; necessariamente. O que é isto e/ou aquilo? Tudo o que assoma a idéia arbitrariamente estabelecida dele, sobre ele, dele sobre ele. Assim, é mais prático - se não tenho o interesse de imaginar (embora já o esteja fazendo) aqui sentados todos os leitores desesperados, ansiosos por um fim cujo fim jamais chega - dizê-lo naquilo que não é. Mais especificamente, em algo determinado pelo título deste pequeno ensaio: não é sentimental. Claro, não que não possa ser (pois disso denota que há a mesma possibilidade para sê-lo encontrada nas mulheres), mas simplesmente não o é, salvo alguns casos de segmentação social em detrimento de tendências, pois permanece subjugado ao estereótipo.

A tradição ocidental foi, então, extremamente desmedida em relação ao homem: sobressaltou alguns valores que não são necessariamente os melhores (ou sequer são bons) e relegou à mulher o papel de grandessíssima ovelha pastoreada, dizendo negativos todos os valores que faziam-se prementes nela (na sua convenção). Assim, é a mulher igualmente um ser desmedidamente construído. A isto chamou-se natureza, e disse: eis o homem; e de sua imperfeita parte uma ainda pior, a mulher. Algo, entretanto, parece estar errado nesta interação. Ficou, então, estabelecido o quadro: homem, apesar de não ser perfeito, mais próximo ao divino. mulher... já nem tanto.

O fruto da Árvore Proibida está aí para isso: a mulher deve ser frágil; o homem, no máximo, fragilizado. Pandora aparece, no mito de Prometeu, como esta eterna lembrança: por quem é o homem fragilizado senão pela mulher? E, enquanto a mulher traz a intuição, o feeling, o ser do homem é a razão. E pela razão nada mais haveria que não ela própria e suas derivadas. Assim: razão, sabedoria e contenção: a humana tripartite perfeição no/do homem exemplar. E existe algo de extremamente equivocado nessa relação (homem-razão), ela aparece como um traço da personalidade esquizoide.

Aqui, resta o homem simplesmente imperfeito (incompleto) diante de sua imperfeição, pois esquece, a bom gosto da tradição, o seu mais instintivo instinto: o sentir, pulsar. Fica, por conseguinte, calado: contido. Guarda e resguarda-se, recalca e retira-se. Ruge em casa, sozinho, e gralha ao mundo em coloridas penas de desespero - pavão entorpecente. Em busca de ataraxia e temperança, um só sinal: falta de si, de rosto, de outro. No palco do tragicômico, a máscara da fluidez.




Um comentário:

  1. Apenas para esclarecer a escolha da imagem. Já no fim do texto, abordo a questão do fluxo. Daí, o fluxo da água, com o da vida: a vida na água como fluxo da vida na água e da água na vida. Isto resume a foto e, também, condiz com a fluidez histórica dos conceitos convencionais.

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