domingo, 16 de outubro de 2011

Hubris ou (Megalo)manias Mesopotâmicas




No palácio em Uruk, repleto de pompa e cerimônia; a cada sorriso do grande líder, miríades infantes copiosamente lacrimejavam . À cada cingir de suas sobrancelhas, seus súditos dançavam em perfeita harmonia coreografada - numa explosão de cores e ritmos na esplanada central, por baixo dos arcos comemorativos de seus mais fabulosos triunfos.

Como líder; filho dos deuses e pai de seu povo -  não poderia ser descuidado com sua vida e sua imagem. Todas as árvores nos seus domínios o pertenciam, e escalar uma delas era um atentado contra a sua honra.

Seu dever maior era proteger o povo de si mesmo, e dos tiranos dos potentados vizinhos. Afinal, a população, suas crianças : Não possuem o esclarecimento e a racionalidade que ele obteve de Ishtar, ou de Enlil. Estes eram fardos seus; cuidar para que seus amados súditos não caíssem nas mentiras e nos vícios morais. 

Ao subir no poder, o Grande Imã havia predito – “Superará todos os outros príncipes! “Aquilo o agradara muito, e como era do seu feitio, resolveu colaborar com a profecia.

Em prol de todos os seus filhos, o povo : Ordenou o assassinato dos líderes dos estados limítrofes, massacrou as tribos que seguiam outros deuses, e mandou construir em cada vilarejo um monumento em sua honra. Só para que não houvesse dúvidas acerca de suas legitimidade e ascendência.

Até que um dia, o império de infiéis o enviou um plenipotenciário, com um protesto formal sobre; o suposto massacre de mercadores, nômades em peregrinação, o confisco de galeras e barcos de juncos que navegavam por seus mares territoriais.

O benevolente Basileu, soberano, filho de Aruru, e Ishtar, possuía deveres mais urgentes, condizentes com a sua posição junto ao patamar dos deuses que habitam as profundezas. 

Mandou consultar seus sacerdotes, mercadores, generais e ministros do conselho de estado, que eram todos de seu sangue. 

Estes o deram o parecer de que, o emissário mentira-  e que cada vez que uma palavra escapava da barreira dos dentes, proferia um crime contra todas as gentes e deuses, e contra a divindade do Grande Líder!

Deixou a decisão mundana nas mãos deles, que cortaram o nariz e as orelhas do facínora, e o enviaram de volta num barril de esterco.

Na primavera do ano seguinte, enquanto observava a dança costumeira das virgens, das quais poderia exigir o direito de senhorio,  recebeu um tablete de um de seus sátrapas relatando a movimentação de tropas inimigas. Uma incontável coalizão de nações.

Consultou novamente o sumo sacerdote e o general dos exércitos, seu tio e seu primogênito, respectivamente, que novamente o garantiram augúrios vitoriosos, e a aparição de Namtar, o deus da perdição, na direção da invasão.

Com todas as hecatombes devidamente celebradas, abençoou suas brigadas que partiriam para a glória, e voltou-se às suas preocupações mais urgentes, a escrever sua história para a posteridade, e das revelações que recebia dos céus.

Morreu um mártir para o seu povo, que certamente o lamentará por toda a eternidade.

2 comentários:

  1. Caio, parabéns pelo conto! Achei muito massa, me transportei para Uruk, e depois de termos conversado ontem, consegui fazer a correlação. hahahahaha! Achei que ficou muito bom!
    Parabéns!

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  2. Caio, ficou muito bom! Agora, tu não acha que a gente tem como levar essa crítica também para o ocidente?

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