terça-feira, 18 de outubro de 2011

Psicografia: elogio à Trasímaco


Toda beleza encontra-se - por natureza e a priori - no espírito torpe. Isto quer dizer, no agir torto e injustamente (ver-se-á adiante qual o sentido de justiça e injustiça). Tal é verdade a partir do fato de que os resultados proveitosos advém, necessariamente, de um agir contrário à moral - e deve-se tomar por certo que esta [moral] é uma forma de diminuição da potência individual [do humano particular]. Este devir [potência] deve ser seta, no sentido antiquíssimo e moderno, ora como flecha atirada ao alvo ora como o próprio lugar do reconhecimento sensível de um local (ou mesmo alguma coisa) desejada.

Acontece que a justiça só existe, atualmente, quando se interpreta a igualdade e a retribuição. Sendo que ambos estes princípios servem para demonstrar um mesmo lado sob dois modos: um negativo-positivo - que caberia ao último [retribuição] isoladamente - e um positivo-negativo que acompanha o primeiro [igualdade] em todos os momentos da existência de sua pressuposição. Pois bem, a retribuição nem sempre é negativa, tendo em vista o encerramento em si própria de um princípio de vingança e desconfiança que deve ser explorado até as últimas conseqüências; a igualdade, por sua vez, é completamente detestável como finalidade, pois, partindo das diferenças concretas e efetivas, chegar-se-á em um momento de identidade por descaracterização do fato sensível - isto significa dizer: passar-se-á a desconsiderar uma desigualdade potencializadora em detrimento de um padrão mediano.

Encarar a justiça como aquilo que (a) se deve retribuir [princípio da retribuição] em (b) iguais partes aos iguais [princípio da igualdade] só é problema quando os iguais estão no mesmo patamar do governante; isto é dizer, só não é problema quando se considerar iguais todos os que desiguais ao mais forte, cuja condição se-lhe excetua da medianidade (por causa de sua excelência, poder e domínio). Por outro lado, e dando azo a este argumento, é extremamente inoperante e destrutivo salvaguardar a igualdade indistintamente, pois assim seria impossível manter a justiça ou injustiça [qualquer potência de um ato], mas apenas a medianidade; pois, se se assume que a justiça é igualdade e retribuição chega-se ao paradigma tradicional de que o justo é ou (a) o meio termo ou (b) suum cuique, contudo isto é inadimissível, pois o que se considerou na história do pensamento virtude nada mais é que vício. Entretanto, saliente-se, tudo o que vício e ignorância para esta inexpressiva, delével e deletéria "tradição", relegado à estirpe de baixo calão, é o que mais próprio de ser justo, visto que é o que maior felicidade individual se atribui ao mais forte - e mesmo aos seus súditos, pois restarão inocentes e irresponsáveis pelas decisões de "Estado".

E bem poder-se-ia parar por aqui, pois não há necessidade de explicação do que óbvio, principalmente quando se impõe por/pela força. Contudo, apenas para justificar a imagem do eu lírico, afirma-se: jamais existiu uma tal justiça que encare o agir justo nesta medianidade - porquanto a isto dar-se-á o nome usurpação de potência -, à exceção, é claro, da norma. Mas esta, em sua natureza, não é tal que permita à realidade uma alteração substancial de sua efetividade, o que se faz deduzir, por fim, a justiça como o seu contrário, a dizer, como injustiça - justiça é injustiça.

Ass. Trasímaco.

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