quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Jouer à "un, deux, trois, ..."


No sinal parara o ônibus. P., durante todo o caminho, sentara-se no meio do automóvel - para ser sincero, nem tanto assim; um pouco mais para frente, uma cadeira atrás da área reservada aos deficientes -, e, em um só instante, já estava em pé - mochila às costas -, segurando com ambas as mãos a metálico-cilíndrica estrutura de apoio. P. olhara para fora - e de um lado ao outro -, porquanto ainda acesa a rúbea sinaleta de trânsito. O escarlate em luz rebatia suavemente em seus óculos - na lente esquerda -, e isto fazia-o prestar-lhe atenção - muito embora não lhe consumisse energias ou trabalhos mentais exaustivos (como bem poderia), de forma a não recalcar de sua existência, nem sequer tolher seu olhar. Neste ínterim, já havia desviado sua mecânica testa-abre-mundo para um ponto remotamente escolhido à posição das duas horas - e por isso vira rapidamente duas figuras sem expressão, como que saídas diretamente das veias do chão, caminhando juntas - aos galopes. Como não lhes detivera o olhar, reparou apenas nos cabelos (escuros e soltos), na suave maquiagem e nas roupas (uma vestia preto e a outra branco). Mas isto só fora possível devido a sua escancarada falta de atenção, o que não tira nem afirma o quão desinteressantes eras as duas moças - se bem que P. as achasse. Não sendo suficiente, e já buscando outro alvo para o seu rotativo mental, P. observara que o senhor - gordo, careca e calmamente ansioso (todavia fosse impossível provar e dizer com certeza) - as seguiu com o girar-de-cabeça típico daqueles que observam. Não é possível, decerto, que lhes tenha achado gosto, pensara P., contudo fosse justamente o caso. Chegara à sua parada.

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