quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Análise sobre as expectativas da vida pública: Rhapsody on Theme of Paganini, Op 43 -Variation XVIII: Andante cantabile (Rachmaninoff sollten angehört werden.)



O som batia nos ouvidos e agitava a sua concentração no nada do seu ser. Saía da caixa, pequena maquineta vulgar, a voz monótona e irritantemente cadenciada no igualitarismo sonífero da voz daquela mulher... Claro, ele guardava o seu respeito em relação a ela; afinal, [ela] o superestimava por um equívoco do passado – deixando-o em uma situação complicadamente fácil de resolver, não fosse a expectativa nele recaída acerca de suas capacidades. Algo a se desconversar. Não desmentir; isto jamais! Fazê-lo seria retornar ao seu anonimato indigente – e, obviamente, o seu ego não o permitiria: essas coisas de ser parente do jovem Narciso. Mas as suas faculdades do espírito não são de todo ruins ou mal utilizadas (sequer são subutilizadas de um modo qualquer e aleatório); as eleva até ao máximo de seu caráter sórdido, não sendo possível determiná-las por uma questão de insuficiência intelectiva sobre os objetos de pouca importância, como é o caso de sua própria capacidade (e, mesmo, de seu conjunto de capacidades). “Basta sê-lo capaz, jovem!”, cantam em coro as vozes do mundo. Mas sê-lo capaz em aparência, como um bom mascarado no baile do Príncipe Mephistos, onde a lâmia mais horrenda apaixona o homem mais torpe com o pretexto de suas alegorias argentas. E isto aquela mulher não compreendia: como um semi-deus hercúleo pudera transformar-se (transtornar-se, quiçá) em um “simples” no breve momento do cálculo da língua – a partir da análise gritante do prefixo ‘semi’, cuja função é tanto dar caráter quanto tirá-lo (sendo que entre o deus e o comum está o semi como o que nada é, ou tudo não é). O pior é que sua imagem, na semelhança de duas gotas d’água, fora confundida por um olhar curto (este dos espíritos míopes) com a nobreza in personae, sendo que a diferença é de natureza entre a maquineta escura e o vagão roto (ou entre a generalidade e a repetição a diferença é de natureza). E esta, como já foi dito por um francês, é cravada na diferença constantemente relembrada: distinção esta que lhe dá o mero semblante de um duque, quando não passa de caixeiro e cru debutante de sua ignorância. Sim, com toda a certeza, fá-lo-á assim na certeza de que aquilo sobre si de que lhe cobram um trato, seja dado em ato, na forma singela de algo que não é; uma simulação. 

Um comentário:

  1. Bruno, que bom que isso aqui tá ressuscitando adoro esses textos sonoros :)
    Pelo jeito a Alemanha tá te inspirando

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