domingo, 14 de outubro de 2012

(Homérida) Contrapunctus II - O Folhetim 09


Em um momento de pestilência imaginativa pensara Laércio:

“Simplesmente, extraordinariamente, horrivelmente, devo acrescentar, decerto, maquinalmente: um lugar comum. Nada há de mais clichê e irrelevante do que o discurso do agrado; o leva-gado-em-paz. Oh, e há tantas coisas mais que poderiam ser ditas em oito minutos, tantas outras potencialmente mais pertinentes... Será que o discurso não se deixa revelar? Será que ele mantém-se calado diante da infinitude de conceitos possíveis ou atuais? Será que é devido abordar as flores quando a raiz é espúria? § Não, querido amigo. Não, forte e pausado. Deverias atinar para aquilo que importa – que não precisa ser o meu importar-se-me, não obstante não deveria ser o desimportante. Anos e anos só foram suficientes para fornecer caldo ao prato de ossos, técnica para os carentes de espírito [entenda-se, virtude e excelência] e vanidade para os vaidosos. Sois todos vós espigas imaturas: não prestais para as bocas dos famintos de "ser". Largai, logo, o discurso heróico; este é para Homero. § Largai! Correi por fazê-lo depressa. Minha abordagem é proposital, é para demonstrar às educadas e finas marteladas nietzschianas o imperativo desta tarefa. Pois, ficou obliterado no passado o conto kafkiano "diante da lei" e só se falou de asnos e dragões. O porvir de todos vós será grandioso, entretanto; Não me é possível, contudo, dizer o mesmo de vossas mentes, já corrompidas pelo desejo de permanência no asco eterno de uma reles preocupação: pois o que são provas para a vida? Nada! § Acaso! Acaso! Acaso! Jamias fora o destino. Jamais fora o nascer de um novo dia. Jamais fora a esperança no futuro. O ocaso está longe. E o homem permanece como uma corda entre o macaco e o super-homem; um obstáculo por vencer ao se deixar vencer. Sois fracos de espírito, volto a afirmar. Devíeis concentrardes todos vós nas palavras de um embuste? O que é o discurso, senão a porta do espírito? E como sois fracos. A tradição prevalece diante do ensino; a técnica por sobre os prados.”

Logo após este intercurso sensual em toda a sua revolta, Laércio volta à cama e dorme.

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