quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Aramá! - O Folhetim 04



Devaneios, eis o que foram. Puros devaneios, aqueles arquétipos da felicidade! A triste inamovibilidade dos seus modos e sentidos transfigurou-o em carvalho, peça ornamental, dureza in personae. "Justiça!" Gritam os sortilégios... Mas, por epopéicas medidas fora a justiça vendada[1]. § Sortilégios, perguntam-se! Sortilégios, é claro! Esses malditos artifícios. Foram chamados bruxaria quando não passavam de opiniões. É verdade, não houve chance para a sua germinação. Notou-se um fio de azeite escurecer: a querida laetitia[2], a tão sonhada aurora de seus sonhos, queixosa de espaço, teve seu júbilo roubado. Para que tamanha ledice? E "justiça!" clamavam os sortilégios! Sem eco, em verdade. § Passeios em pipas e alucinações era o cântico dos corais. A vida já não era a mesma, perdera o fogo. O nobre enrijecimento, este não, continua e cresce e alegra-se e reflete e diz: ‘como eu sou perfeito, tamanho hederáceo!’ Fustigação contínua do caudaloso líquido; extrai o brilho proporcionado pela seiva; mas de que isso importa, o resultado é belo, outrossim! Em pouco se perde a beleza, que fica, mas alterada, e em muito a sutileza, que definha em movimentos nodais. § De uma sua percepção nascera o novo, o antigo. Porvir, devir, potência. Não poderia ser diferente! Os grupos se forçam, as forças se formam e esta, em seu eu solitário, forma o persistir enraizado. Difícil é sair deste estado. Assim chegou Laércio à sua grande encruzilhada: entre a superficialidade das relações ou a profundidade das chagas. Oh! Como são profundas as chagas... \


[1] O texto, originalmente, seria: Mas, por Diké substituir-se-ia Iustitia*, assim, declarou-se a morte aos ideais, pois fora a justiça vendada. *Diké Iustitia: representações mitológicas das deusas da justiça na Grécia (clássica tardia e helenística) e Roma, respectivamente.
[2] Palavra latina para felicidade.

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