terça-feira, 16 de novembro de 2010

Cetro, Centro e Agonia

Kafka, tal qual Kierkegaard, descobriu o grande vértice do homem: a angústia! Não é para menos que ele amplamente trabalha o abafamento claustrofóbico e a certeza de que não haverá uma saída, que não a morte, para resolver a doença do mundo: esse buraco cheio de vermes que, na obra "Um Médico Rural" ora resigna ora indigna. E, se não bastasse o fato de tomarmo-nos por baratas horrendas e desprezíveis, é na solidão e na inesperança que dar-se-á um desenrolar, quer melhor ou pior. Pois se o carro precisa de um combustível, o homem precisa do desespero para mover-se.

Qual a graça de ir a um parque de diversões e deixar para trás todas as montanhas russas? E qual a graça de ir naquela que só dá uma volta, sem nenhuma aventura? É preciso entrar de cabeça; ir na mais alta e mais íngreme para, quando lá em cima, puder olhar todas aquelas formigas-pessoas, contemplar todo aquele segundo - tão grande nessas horas - antes que todas as entranhas se comprimam em um mesmo ponto, descarregando, naquela que parece ser a derradeira viagem, um enorme, energético e revigorante jato de adrenalina.

No mais, quando as barreiras do som forem rompidas e suprimidas por uma única meia-palavra, será a hora de recolocar o medo como latência e contemplar o pior-melhor. Sei bem que a minha visão pode ser um pouco mais reconfortante, mas em Kafka já é bastante o buraco, a nudez, a asfixia - sempre uma despotencialização.

Para tanto, uma adaptação elaborada por Koji Yamamura:



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