quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Educação: entre o embrutecimento e a emancipação.


Um grande professor e mentor meu certa vez me passou dois livros para ler; eles se chamavam  "O Infante de Parma: a educação de um príncipe iluminista" - de Elisabeth Badinter" - e "O Mestre Ignorante: cinco lições sobre a emancipação intelectual" - de Jacques Rancière. A ordem da leitura fora justamente esta e a proposta, na verdade, fora encaminhada a um grupo de alunos seus, os quais, assim como eu, eram muito interessados pelas cadeiras de Filosofia e Sociologia do direito.

Assim, em um primeiro momento, lendo a obra do Infante, eu me deparei com um sistema de educação que, em primeiro lugar, lembra muito aquele ao qual eu fui submetido durante toda a minha vida, quer dizer, um sistema já bastante violento, aonde impera a necessidade da força bruta para a conquista do saber (Diga-se, não obstante, que não foi exatamente o que eu recebi, mas em muito é semelhante). No livro, um jovem príncipe de uma cidade-estado chamada Parma, na região da Itália, recebe a incumbência, contudo sem a sua anuência (mas na verdade qual é o pai que deixa de lado as suas expectativas em cima do filho para deixá-lo escolher? parece, em certa medida que é até anti-natural!), de ser a prova viva de que o sistema filosófico, racionalista, do Iluminismo poderia ser posto em prática e idealizado como o melhor possível. Pois bem, parece que o tiro saiu pela culatra! Se, já novo, tinha-se uma grande promessa, em sua maturidade descobriu-se um frouxo e carola de um estúpido, o qual sempre fora obrigado a interessar-se por assuntos que não lho apeteciam. Foi, portanto, o relato de um total fracasso educativo.

Logo depois, com a leitura do livro de Rancière, podemos ver uma proposta completamente diferente. Ele conta a história de Joseph Jacotot, um francês que, exilado nos Países Baixos (por ter sido revolucionário em 1789) com a restauração da monarquia, fora convidado a ensinar em uma universidade. Os seus métodos, entretanto, não eram dos mais comuns... Jacotot não sabia holandês, o que poderia ser um grande problema, mas pensou em utilizar uma obra bilingüe para ensinar francês e pediu aos alunos (cujo conhecimento desta língua, a eles estranha, era se não zero, quase isso) que após a leitura escrevessem seus pensamentos na língua de Joana D'arc. Muito interessante foi a estranheza de Jacotot ao encontrar ótimos comentários e muito bem escritos! Assim, Rancière lança o arcabouço para a sua teoria: não há que se falar em aulas magestáticas aonde o professor, fonte do saber, leciona a pobres almas privadas de conhecimento, mas pensar a igualdade intelectual como um princípio. Quer dizer, não há discrepância entre mestre e aluno, todos tem igual capacidade, e ainda atrevo-me, inspirado neste livro, a dizer que muito pode o doutrinador apreender de seus alunos se se colocar numa posição de faminto intelectual. Aliás, como bem dito no livro, o mito pedagógico, a dizer, a idéia da desigualdade professor-aluno, deve ser superada para não haver o embrutecimento - que seria a maneira de se praticar repetições absurdas paltadas numa insuficiência de massa cinzenta para o aprendiz.

Portanto, como educação faz parte das prioridades de qualquer Estado que se preze, deixo o meu recado, sempre lembrando esse grande professor e amigo, cujo maior mérito foi ter incentivado a minha emancipação intelectual e o meu auto-didatismo. Ademais, fica aqui uma sugestão de leitura: "Educação Como Prática da Liberdade" de Paulo Freire e a idéia de que não basta formar alunos de repetições, mas prepará-los para o diálogo, extirpar a violência das pedagogias verticais!

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